Um ato comum de pessoas que decidem parar de usar drogas é tentar se convencer de que é possível controlar o uso, dar um tempo, e quando estiver melhor, voltar a tomar uma cervejinha, usar moderadamente somente aos finais de semana. Enfim, é o famoso uso controlado.
Neste artigo vamos desmistificar o conceito de uso controlado e explicar o porquê provavelmente você nunca mais poderá consumir drogas. Quem é o grande responsável por fazer com que você se mantenha sóbrio para sempre?
O porquê você nunca mais poderá usar álcool e drogas
A grande responsável é a sua memória. Sim! A sua memória é o pivô que fará da sua reabilitação um sucesso.
A memória faz parte da nossa estrutura inteligente. Existe aquela memória responsável por lembrar informações básicas como o seu nome, os nomes dos seus familiares, sua data de nascimento, o lugar onde mora, as matérias que precisa estudar para fazer uma prova e etc.
Imagine se nós não tivéssemos memória. Sempre que fossemos abrir uma porta, por exemplo, precisaríamos aprender a como fazê-lo.
Ou ao tomar o café da manhã o nosso organismo precisaria reconhecer informações como sabor, temperatura, textura e etc.
E quando expostos a situações perigosas como o fogo, por exemplo, sempre iríamos nos queimar por não reconhecê-lo como uma ameaça.
Enfim, a memória é essencial para a nossa sobrevivência, pois sem ela, certamente já havíamos sido extintos. Porém, existe outro tipo de memória chamada memória biológica.
O que é memória biológica e o porquê ela impede dependentes químicos de manter o uso controlado
Como toda estrutura inteligente, nosso organismo trabalha de modo a evitar o desperdício de energia e informação, por isso ele otimiza constantemente o próprio desempenho, a fim de poupar tempo e energia.
Mas você deve estar se perguntando o que isso tem a ver com abster-se para sempre do consumo de álcool e drogas.
Acontece que quando o organismo se adapta a uma certa substância seja ela qual for, nesse caso drogas ou álcool, o mesmo grava informações referentes a essa substância.
Informações como:
- Tipo de substância
- Quantidade ingerida
- Frequência de uso
Existem inúmeros tipos de substâncias, sendo que as drogas são substâncias que alteram de alguma forma o funcionamento do nosso organismo.
Porém, não são todos os tipos de drogas que nos interessam, geralmente são viciantes as drogas psicoativas, compostas por substâncias que alteram o sistema nervoso central cujo centro é o cérebro.
Psico significa mente e ativas significa ação. Mas também existem drogas que alteram outros sistemas, como o sistema circulatório ou o sistema digestivo. Esses tipos de droga são conhecidas como medicamentos e não possuem nenhum poder de alteração no cérebro.
Por isso, o organismo irá registrar uma substância psicoativa que está sendo ingerida em uma determinada quantidade e frequência. Em outras palavras, o mesmo gravará as informações referentes a esse uso específico, registrando com precisão os valores relacionados ao tipo, quantidade e frequência, criando uma memória da substância em questão, bem como dos valores citados.
Eis aí a nossa memória biológica, uma das principais responsáveis pela dependência química ser uma doença “incurável” no sentido de que o seu corpo nunca poderá entrar em contato com essas substâncias, caso queira se manter sóbrio.
A memória biológica é criada naturalmente pelo próprio organismo e não temos nenhum controle sobre ela. A formação da mesma acontece sem a nossa participação e nada podemos fazer para apagá-la.

O organismo cria a memória biológica justamente para otimizar o desempenho e poupar energia, ou seja, é registrado um “gabarito de funcionamento” contendo as principais substâncias psicoativas.
Vale ressaltar que qualquer substância quando ingerida pela primeira vez pode ser interpretada como um corpo estranho, algo nocivo para o funcionamento e equilíbrio do organismo. Sendo assim, é preciso a liberação de energia para que o mesmo consiga se reequilibrar.
Com o tempo o organismo se adapta a substância e desenvolve tolerância, isso significa que o corpo se torna mais resistente ao álcool e às drogas. Quando se torna tolerante, o usuário predisposto acaba desenvolvendo problemas de uso compulsivo até apresentar um quadro patológico, a dependência química.
Ao interromper o uso, ou seja, bloqueia-se a compulsão e o organismo sofre modificações referentes a abstinência da droga pela qual o organismo tinha se acostumado.
Sendo assim, o dependente químico começa a experimentar uma série de sintomas negativos logo no início da abstinência, desde febre, dores de cabeça e até convulsões no caso dos alcoólatras.
Porém, mesmo com a interrupção do uso a memória biológica não se apaga, permanecendo latente no organismo do indivíduo.
O gabarito permanece intacto tornando qualquer tentativa de uso controlado totalmente arriscada. Caso o paciente experimente qualquer tipo de substância psicoativa durante o período de abstinência, acionará sua memória biológica.
O problema é que no gabarito estão registradas as informações referentes a quantidade e frequência, o que significa que o organismo o forçará a adaptar-se à quantidade e frequência antigas, já registradas na memória.
Dessa forma, o indivíduo volta a velha rotina de uso mais rápido do que poderia perceber.
Devemos lembrar que não possuímos nenhum tipo de controle consciente sobre o nosso organismo e menos ainda sobre estruturas tão complexas como a nossa memória biológica.
Em outras palavras, às vezes a pessoa realmente deseja parar, porém, quando se ativa a memória biológica ela não possui mais o controle sobre o próprio consumo.
Considerações finais
Concluímos que a memória biológica torna a doença absolutamente incurável, já que não importa o tempo de abstinência que o paciente percorra, ela sempre existirá.
O mais perigoso dessa característica é que a volta ao uso acontece sempre na mesma ou em maior intensidade de antes da abstinência, ou seja, o dependente químico que recai, retoma o caminho do vício exatamente onde parou, e daí para frente se aprofundará cada vez mais.
Devemos lembrar que antidepressivos, ansiolíticos, remédios para dormir e moderadores de apetite também possuem substâncias psicoativas e por isso, devem ser consumidos sob acompanhamento médico.
O interessante é que nem todas as pessoas desenvolvem a tolerância e a dependência química, sendo assim, pessoas que conseguem manter uma relação não problemática com as substâncias, certamente não terá problemas com a memória biológica.
Em outras palavras, usuários sociais que não desenvolveram um quadro patológico, ou seja, não adoeceram pelo uso contínuo de substâncias.
Sendo assim, apesar de existir em todas as pessoas, a memória biológica não acarretará problemas para os mesmos, porém, para dependentes químicos ela é a prova de que quem teve ou tem problemas com substâncias químicas nunca mais poderá consumi-las durante ou após a reabilitação.
